sexta-feira, abril 27

A Regeneração (inédito, de J.C.Ryle)



6º capítulo do livro “Nós Desatados”
De J.C.Ryle
1º Bispo da Diocese da Igreja da Inglaterra em Liverpool



Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”.(João 3: 3.)



A regeneração é um dos assuntos mais importantes de todos os tempos. As seguintes palavras do nosso Senhor Jesus Cristo a Nicodemos são muito sérias. Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. (João 3: 3.) O mundo passou por muitas mudanças desde que essas palavras foram pronunciadas. Mil e oitocentos anos se passaram. Impérios e reinados surgiram e caíram. Grandes e sábios homens nasceram, trabalharam, escreveram e morreram. Mas ali está a lei do Senhor Jesus, que permanece inalterada. E assim continuará, mesmo que céus e terra passem: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”.

Mas o assunto de hoje é de importância peculiar aos membros da Igreja da Inglaterra[1] Muitas coisas se passaram nos últimas anos, as quais chamaram para si uma atenção especial. A mente dos homens está cheia dela e seus olhos a fixam. A regeneração tem sido discutida nos jornais. A regeneração tem sido falada em sociedades privadas. A regeneração tem sido debatida nas cortes da lei. Certamente esse é o tempo em que todo verdadeiro clérigo deve examinar-se a si mesmo neste quesito, e ter certeza de que suas opiniões estão sólidas. É chegado o tempo em que não podemos nos balançar entre duas opiniões. Devemos conhecer o que defendemos. Devemos estar prontos para explicar nossas crenças. Quando a verdade é atacada, aqueles que a amam devem agarrá-la mais firmemente do que nunca.

Proponho nesse papel atentar para três questões:

I. Primeiro, explicar o que é Regeneração, ou o que nascer de novo significa.
II. Segundo, apresentar a necessidade da Regeneração.
III. Terceiro, expor os sinais e as evidências da Regeneração.

Se conseguir esclarecer esses três pontos, terei prestado um grande serviço aos meus leitores.

I. Primeiro, explicar o que é Regeneração, ou o que nascer de novo significa.
Regeneração é a mudança no coração e na natureza humanos pela qual um homem passa quando ele se torna um verdadeiro cristão.

Não há dúvida alguma de que existe uma imensa diferença entre aqueles que professam e os que se autointitulam cristãos. Por trás de toda disputa, existem sempre duas classes de cristãos aparentes: os que são cristão apenas no nome e na forma e os que são cristãos em obras e em verdade. Nem todos os judeus eram realmente judeus, assim como nem todos os cristãos são realmente cristãos. “Na igreja manifesta”, afirma um artigo da Igreja da Inglaterra, “o mau estará sempre misturado ao bom".

Alguns, como o Artigo 39 declara, são “ruins e estão isentos de uma fé viva", outros, ainda conforme o artigo diz, são feitos conforme a imagem do único filho de Deus, Jesus Cristo, e caminham corretamente em boas obras. Alguns adoram a Deus de forma pífia, outros O fazem em espírito e em verdade. Alguns dão seu coração a Deus, outros o dão ao mundo. Alguns acreditam na Bíblia e vivem conforme suas ordenanças, outros, não. Alguns pecam e condoem-se por isso, outros, não. Alguns amam o Cristo, confiam nEle e servem-nO, outros, não. Resumindo, como pregam as Escrituras, alguns andam pelo caminho estreito, outros, pelo largo; alguns são os bons peixes da rede do Evangelho, outros, os ruins; alguns são o trigo no campo de Cristo, outros, o joio.[2]

Acredito que homem algum, estando ele com os olhos bem abertos, deixará de enxergar isso, tanto na Bíblia quanto no mundo que o rodeia.  Seja lá o que ele pense sobre o assunto que escrevo, ele não pode simplesmente negar que existe uma diferença.

Agora, qual é a explicação dessa diferença? Respondo sem hesitar: regeneração ou nascer de novo. Respondo que verdadeiros cristãos são como são porque foram regenerados, e cristãos formais são como são porque não são regenerados.  O coração do cristão foi verdadeiramente mudado.  Já o coração do cristão apenas no nome, não sofreu alterações. A mudança no coração faz toda a diferença.[3]

Tal mudança no coração é continuamente relatada na Bíblia, sob vários emblemas e figuras.

Ezequiel identifica-a por "tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei coração de carne” e "dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo." (Ezequiel 11:19; 36:26.).

O apóstolo João algumas vezes a chama por “nascido de Deus”, outras vezes por “nascido de novo" e, ainda, por "nascido pelo Espírito" (Jo 1:13, 3:3,6.).

O apóstolo Pedro, em Atos, chama de “arrependei-vos e convertei-vos.” (At 3:19.).

A epístola aos Romanos fala sobre ela como sendo “ressurretos dentre os mortos." (Rm 6: 13.).

A segunda epístola aos Coríntios chama de “nova criatura:  as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.” (2 Co 5: 17.).

A epístola dos Efésios fala sobre ela como a ressurreição juntamente com Cristo:  Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef 2: 1); como “despojeis do velho homem, que se corrompe, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade (Ef. 4: 22, 24.).

A epístola dos Colossenses chama por “uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos; e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou(Cl 3: 9, 10.).

A epístola de Tito chama de “o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo.” (Tt 3: 5.).

A primeira epístola de Pedro fala sobre isso como “daquele que vos chamou das trevas para sua maravilhosa luz.” (I Pe 2: 9.).

E a segunda epístola, como “coparticipantes da natureza divina (II Pe 1: 4.).

A primeira epístola de João chama por “passamos da morte para a vida.” (I Jo 3: 14.).

Todas essas expressões, no final, significam a mesma coisa.  Elas todas são a mesma verdade, apenas vistas de lados diferentes.  E todas têm o mesmo e único significado.  Elas descrevem a mudança radical do coração e da natureza humana – uma perfeita mudança e transformação do interior humano - uma participação na ressurreta vida de Cristo; ou, tomando emprestadas as palavras do Catecismo da Igreja da Inglaterra, "Uma morte para o pecado e um novo nascimento para a retidão."[4]

Essa mudança no coração do verdadeiro cristão é perfeita e completa, tão completa que nenhuma outra palavra se encaixaria tão perfeitamente do que "regeneração” ou “novo nascimento”. Sem dúvida alguma não é nenhuma alteração corporal, externa, mas, indubitavelmente, uma alteração por completo no interior humano.  Ela não adiciona nenhuma outra faculdade mental ao homem, mas certamente dá uma nova disposição e inclinação às capacidades que ele já possui. Seu querer é tão novo, seu gosto é novo, suas opiniões são novas, sua forma de ver o pecado, o mundo, a Bíblia, o Cristo é tão nova, que ele se torna um novo homem em todas as suas intenções e propósitos. Tal mudança faz surgir um novo ser. Pode muito bem ser chamado de “nascido de novo”.

Essa mudança não é sempre dada aos cristãos ao mesmo tempo em que se convertem.  Alguns nascem de novo ainda crianças e parecem, assim como Jeremias e João Batista, preenchidos com o Espírito Santo já desde o ventre de suas mães.  Alguns nascem de novo numa idade mais avançada.  A maior parte dos Cristãos provavelmente nasce de novo depois que crescem. Já a vasta multidão de pessoas, e isso é de recear, chega à cova sem nem mesmo ter nascido de novo.

Essa mudança no coração nem sempre começa da mesma formanaqueles que passam pelo novo nascimento depois que crescem.Com alguns, como o apóstolo Paulo e o carcereiro em Filipo, foi uma mudança súbita e violenta, ocorrida com grande aflição de espírito. Com outros, como Lídia e Tiatira, foi mais suave e gradual: seus invernos tonaram-se primavera de forma quase imperceptível por elas. Com alguns a mudança é trazida pelo Espírito trabalhando através de aflições e visitas providenciais.Com outros, e provavelmente aqui se encontra o grande número de verdadeiros cristãos, a Palavra de Deus, pregada ou escrita, é o meio pelo qual são influenciados.[5]

Essa mudança só pode ser conhecida e discernida pelos seus frutos. Seus começos são algo escondido e secreto. Não podemos vê-los. Nosso Senhor Jesus Cristo nos diz da forma mais clara: O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito” (João 3: 8.) Saberíamos se estivéssemos regenerados? Devemos tentar responder à questão examinando o que sabemos sobre os efeitos da regeneração. Esses efeitos são sempre os mesmos. Os caminhos pelos quais verdadeiros cristãos são levados, passando por grandes mudanças, certamente são vários. Mas o estado do coração e da alma para o qual eles são levados é sempre o mesmo. Pergunte-os o que eles acham sobre o pecado, Cristo, santidade, o mundo, a Bíblia e a oração e você os verá como uma única mente.

Essa mudança nenhum homem pode dar a si mesmo ou a outro.  Isso seria tão razoável quanto esperar que os mortos se levantassem ou pedir para que um artista desse vida a uma estátua de mármore.Os filhos de Deus "não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.” (Jo 1:13). Algumas vezes a mudança é designada por Deus, o Pai: Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança." (I Pe 1:3). Algumas vezes atribuída a Deus, o Filho: O Filho vivifica aqueles que (Ele) quer.” (Jo 5: 21.) Se sabeis que ele é justo, reconhecei também que todo aquele que pratica a justiça é nascido dEle.” (I Jo 2: 29.) Algumas vezes é atribuída ao Espírito Santo, e Ele é, verdadeiramente, o grande agente pelo qual ela é sempre efetuada: “O que é nascido do Espírito, é espírito.(Jo : 6.) Mas o homem não tem poder algum para trabalhar na mudança. Algumas vezes ela está longe, muito longe de seu alcance. “A condição do homem depois da queda de Adão,” diz o décimo artigo da Igreja da Inglaterra, "é tamanha que ele não pode mudar-se a si mesmo pela sua própria força e trabalho, mas pela fé e clamando por Deus”.  Nenhum ministro na terra pode dar graça a alguém de sua congregação pelo seu próprio juízo.  Ele pode pregar tão verdadeiramente e fielmente quanto Paulo e Apolo, mas de Deus “veio o crescimento" (I Co 3: 6.) Ele pode batizar com água no nome da Trindade, mas a não ser que o Santo Espírito acompanhe e abençoe a ordenação, não haverá morte para o pecado, tampouco nascimento para a retidão. Apenas Jesus, a Cabeça da Igreja, pode batizar com o Espírito Santo. Abençoados e felizes são aqueles que têm tanto o batismo interno quanto o externo.[6]

Acredito que o relato precedente da Regeneração seja bíblico e correto. É essa mudança de coração que distingue a marca de um verdadeiro cristão, a companhia invariável de uma fé justificada em Cristo, a inseparável consequência de uma união vital com Ele e a raiz e o princípio de uma santificação do corpo. Peço a meus leitores que ponderem bem antes de irem mais além. É de extrema importância que nossas visões estejam claras nesse ponto, sobre o que a regeneração verdadeiramente é.

Eu sei bem que muitos não permitirão que a Regeneração seja aquilo que eu acabei de descrever.  Eles dirão que a sentença que acabei de dar é, por definição, muito forte.  Alguns defendem que Regeneração significa apenas o acesso a um estado de privilégios eclesiásticos ao tornar-se membro da igreja, mas que não significa uma mudança no coração.  Alguns nos dizem que um homem regenerado tem certo poder dentro dele que o permite arrepender-se e acredita que seus pensamentos se encaixam, mas que ainda precisa de uma mudança mais ampla a fim de tornar-se um verdadeiro cristão.  Alguns dizem que há diferença entre regeneração e nascer de novo.  Outros dizem que há diferença entre nascer de novo e conversão.

A tudo isso, tenho uma simples resposta, ei-la: não consigo encontrar tal forma de regeneração falada em qualquer lugar da Bíblia. A regeneração que significa apenas admissão a um estado de privilégio eclesiástico pode ser antigo e primitivo, pelo que eu saiba. Mas algo mais do que isso é preciso. Alguns textos claros da Escritura são necessários, e tais textos ainda precisam ser encontrados.

Essa noção de regeneração é completamente inconsistente com o que João nos dá em sua primeira epístola. Ela torna necessária a invenção de uma teoria ineficaz de que existem duas regenerações, e é altamente calculada com o intuito de confundir as mentes de pessoas sem conhecimento e introduzir falsas doutrinas. É um conceito que parece não corresponder a solenidade com a qual nosso Senhor introduz o assunto a Nicodemos. Quando Ele disse “Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”, Ele quis se referir que não poder ver o reino de Deus o que não é admitido para um estado de privilégio eclesiástico? Certamente Ele quis dizer muito mais do que isso. Tal espécie de regeneração um homem pode ter, como Simão, o Mago, e, mesmo assim, nunca ser salvo. Essa regeneração ladrão arrependido jamais poderia ter sentido ou experimento, mas mesmo assim, se acha ao Reino de Deus. Com certeza Ele quis dizer uma mudança de coração. Quanto à ideia de que existe alguma distinção entre ser regenerado e ser nascido de novo, essa não terá investigação. É de senso comum entre todos os que conhecem grego, que essas duas expressões significam a mesma coisa.

Para mim, realmente, parece existir muitos conflitos de ideias e apreensões indistintas na mente humana quanto a essa questão - o que a regeneração realmente é - e todas surgindo simplesmente por não aderirem à Palavra de Deus. Que um homem é admitido a um estado de grande privilégio quando ele se torna membro de uma pura Igreja de Cristo, isso eu não nego em momento algum.Que sua alma está numa posição muito melhor e bem mais vantajosa do que se não pertencesse à igreja, isso eu nem sequer questiono. Que uma larga porta foi aberta perante sua alma, a qual não é posta diante do pagão, isso eu posso claramente ver.Mas em momento algum vejo a Bíblia nomeando esse acontecimento como Regeneração. E não encontro um único texto na Escritura que autorize tal suposição. É muito importante na teologia distinguir as coisas que se diferem. Os privilégios na Igreja são uma coisa; a Regeneração, outra. Quanto a mim, não ouso confundi-las.[7]

Estou bem ciente de que grandes e bons homens tem se agarrado a essa baixa visão da Regeneração advertida por mim.[8] Mas quando a doutrina do eterno Evangelho está em jogo, não posso chamar nenhum homem de mestre. As palavras do velho filósofo nunca devem ser esquecidas: Eu amo Platão, eu amo Sócrates, mas amo a verdade mais do que a ambos”. Digo sem hesitar que aqueles que defendem a visão de que existem duas regenerações, não são capazes de trazer nenhum texto claro que comprove isso. Acredito firmemente que nenhum leitor da Bíblia jamais encontraria esse ponto de vista; e isso me é suficiente para suspeitar de que essa é uma ideia da cabeça humana. A única regeneração que vejo nas escrituras não é uma mudança de estado, mas de coração. Essa é a visão, mais uma vez afirmo, que o Catecismo da Igreja prega quando fala de “morte para o pecado e novo nascimento para a retidão”, e é nessa visão que eu acredito.

A doutrina diante de nós é de vital importância.  Não é problema de nomes, palavras ou formas sobre o que escrevo.  Se seremos salvos, isso é algo que devemos sentir e saber por experiência, cada um por si só. Tentemos nos familiarizar com isso. Não deixemos que o rumor e a fumaça da controvérsia desvie nossa atenção de nossos corações.  Nossos corações estão mudados? É um trabalho difícil discutir, argumentar e disputar sobre regeneração se, no final, não sabemos nada sobre ela.

II. Deixe-me mostrar, em segundo lugar, a necessidade que temos em ser regeneradores ou nascidos de novo.

Essa necessidade fica mais clara através das palavras do nosso Senhor Jesus Cristo, no terceiro capítulo do evangelho de João.Nada pode ser mais claro e positivo do que o que Ele fala a Nicodemos: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. “Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo" (Jo: 3: 3, 7.)

As razões para essa necessidade são o pecado e a corrupção excessiva de nossos corações primitivos. As palavras de Paulo aos Coríntios são perfeitas: Ora, o homem natural não aceita as cousas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura (I Co 2: 14.) Assim como os rios correm para a foz, faíscas voam pelos céus e pedras caem no chão, assim o coração do homem naturalmente se inclina para o mal. Amamos os inimigos de nossas almas e odiamos os amigos delas. Nós chamamos o bem de mau e o mau de bom. Regozijamo-nos no pecado, mas não vemos prazer algum em Cristo. Não apenas cometemos pecado, mas também o amamos. Não precisamos somente limpar-nos da culpa do pecado, mas também precisamos ser libertos de seu poder. O tom natural, o preconceito e a correnteza de nossas mentes devem ser completamente alterados. A imagem de Deus, que foi manchada pelo pecado, deve ser restaurada. A desordem e a confusão que reina em nós devem ser posta de lado. As primeiras coisas já não devem mais ser as últimas, nem as últimas as primeiras. O Espírito deve deixar entrar a luz em nossos corações, colocar tudo em seu devido lugar e criar coisas novas.

Sempre deve ser lembrado que existem duas coisas distintas que o Senhor Jesus Cristo faz para todo pecador salvo por Ele. Ele o lava de todos os seus pecados com o Seu próprio sangue e dá o perdão de graça: isso é justificação. Ele coloca o Espírito Santo no seu coração e faz dele uma pessoa completamente nova: isso é regeneração.

Ambas são absolutamente necessárias para a salvação. A mudança de coração é tão necessária quanto o perdão; e o perdão é tão necessário quanto a mudança de coração. Sem o perdão, não temos nem o direito nem o título para irmos ao céu. Sem a mudança, não deveríamos estar reunidos nem prontos para desfrutar do céu, mesmo se chegarmos nele.

Regeneração e justificação nunca andam separadas.  Nunca são encontradas isoladas.  Todo homem justificado também é regenerado, e todo homem regenerado é justificado.  Quando o Senhor Jesus Cristo dá ao homem remissão dos pecados, Ele também dá arrependimento.  Quando Ele concede paz com Deus, Ele também concede "poder para se tornar filho de Deus”.  Existem duas grandes máximas do glorioso Evangelho que nunca devem ser esquecidas.  Uma é: “Quem crer e for batizado será salvo (Mc 16:16.), a outra: “E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dEle (Rm 8: 9.)

O homem que nega a necessidade universal da regeneração sabe pouquíssimo sobre a corrupção do coração.  Aquele que fantasia que o perdão é tudo o que precisamos para chegarmos ao céu, e não vê que o perdão sem a mudança de coração é um presente inútil, é um cego.  Bendito seja Deus, pois ambos nos são oferecidos gratuitamente pelo Evangelho de Cristo e porque Jesus está apto e disposto a nos dar tanto um, quanto outro!

A A grande maioria das pessoas no mundo não vêem nada, não sentem nada e não sabem nada de religião como deveriam.  Como e por que isso ocorre, não é a presente questão.  Apenas a coloco no consciente de cada leitor deste volume. Não é isso verdade?

Diga-lhes sobre o pecado em muitas ações que eles praticam continuamente, e o que é geralmente a resposta? "Eles não vêemmal algum".

Avise-os sobre o grande perigo pelo qual suas almas passam, o pouco tempo que tem, a proximidade da eternidade, a incerteza da vida, a realidade do julgamento. Eles não sentem medo.

Pregue-lhes sobre a necessidade de um Salvador poderoso, amoroso e divino e sobre a impossibilidade de serem salvos do inferno, exceto pela fé nEle. Tudo cai de pisado e morto em seus ouvidos. Eles não vêem tamanha barreira entre eles e o céu.

Como ser Salvo (sermão inédito, de J.C.Ryle)


Tratado escrito por
J. C. Ryle



“Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão”. (Lucas 13:24)




Uma vez um homem fez ao nosso Senhor Jesus Cristo uma pergunta muito séria.  Perguntou-lhe:“Senhor, apenas algumas pessoas serão salvas?”.
Não sabemos quem foi esse homem. Desconhecemos quais foram os motivos para que ele fizesse essa pergunta. Talvez quisesse satisfazer uma curiosidade qualquer, talvez quisesse apenas uma desculpa para não procurar por si mesmo a salvação. O Espírito Santo omitiu tudo isso de nós: o nome e o motivo do homem que procurava essas informações foram ambos vetados.

Mas a importância da resposta do Senhor a essa pergunta é muito clara. Jesus aproveitou a oportunidade para direcionar as mentes de todos que estavam ao Seu redor ao claro dever que cada um tinha. Ele sabia dos inúmeros questionamentos que a pergunta daquele homem havia provocado naqueles corações, Ele viu o que havia dentro deles. "Porfiai”, Ele disse, “por entrar pela porta estreita”. Quer tenham muitos salvos ou poucos, a sua ordem é clara: faça todo esforço para entrar. Agora é o tempo. O dia salvação é agora. Chegará o dia em que muitos procurarão entrar, mas já será tarde e não conseguirão. “Porfiai por entrar pela porta estreita”.

Quero chamar sua atenção para as sérias lições que essas palavras do Senhor Jesus desejam ensinar para nós, e as quais merecem nossa total recordação nos dias de hoje. Tais palavras nos ensinam claramente a poderosa verdade de que é de nossa inteira responsabilidade a salvação de nossas almas, mostram o grande perigo em deixar de lado a necessidade de nos tornarmos verdadeiros cristãos, como muitos tem feito, infelizmente. Em ambos os pontos, o testemunho de nosso Senhor Jesus Cristo no texto é bem claro. Ele, que é o Deus eterno e sempre proferiu sábias palavras, disse-nos a todos nós “Porfiai por entrar pela porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão” (Lucas 13:24).

I. Eis aqui uma "descrição” para se chegar à salvação. Jesus a chama de “porta estreita”.

II. Eis aqui uma “ordem” clara. Jesus diz, “Porfiai por entrar".

III. Eis aqui uma "profecia” assustadora. Jesus diz “Muitos procurarão entrar, e não poderão”.

Que o Espírito Santo floresça o tópico dessa mensagem nos corações de todos os ouvintes hoje presentes! Que todos os que me escutam, experimentem a verdadeira salvação, obedecendo a ordenança do Senhor a fim de serem salvos no grande dia da segunda vinda de Cristo!


I. Eis aqui uma "descrição” para se chegar à salvação. Jesus a chama de “porta estreita”.

Existe uma porta que nos leva ao perdão, à paz com Deus e ao céu. Quem entrar por essa porta será salvo. Com grande certeza, essa porta nunca foi tão necessária quanto hoje.

O pecado é uma montanha enorme entre o homem e Deus. Como a escalará o homem?

O pecado é uma parede altíssima entre o homem e Deus. Como passará o homem por ela?

O pecado é um grande abismo entre o homem e Deus. Como poderá o homem atravessá-lo?

Deus está no céu, santo, puro, espiritual, imaculado, iluminado, sem sinal algum de escuridão. Ele não tolera o que é maligno e nem olhar para o pecado. O homem é como um verme, rastejando-se na terra por alguns anos – pecaminoso, corrupto, errado, defeituoso – uma criatura cuja imaginação é dominada pelo mal e cujo coração é, acima de tudo, enganoso e desesperadamente mau. Como poderão Deus e o homem ficarem juntos? Como poderá o homem aproximar-se de seu Criador sem sentir medo ou vergonha? Bendito seja Deus, pois há uma forma! Há um caminho. Há uma trajetória. Há uma porta. É a porta falada nas palavras de Cristo, “a porta estreita”.

Essa porta foi “feita para os pecadores pelo Senhor Jesus Cristo”. Por toda a eternidade, Ele prometeu que a faria.Na plenitude do tempo, Ele veio ao mundo e a criou, por meio de Sua própria morte reconciliadora na cruz. Através dessa morte, Ele deu uma penitência para o pecado humano, pagou a dívida humana para com Deus e enterrou todos os castigos do homem. Ele construiu uma porta à custa de Seus próprios sangue e corpo. Ele ergueu uma escada na terra, cujo topo alcançava o céu. Ele fez uma porta pela qual os piores dos pecadores pudessem entrar na santa presença de Deus sem temer. Ele abriu um caminho pelo qual o mais vil dos homens, acreditando Nele, poderia se aproximar de Deus e ter paz. Ele nos afirma “Eu sou a porta, se alguém entrar por mim, salvar-se-á" (João 10:9). "Eu sou o caminho, ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14:6). “No qual”, diz Paulo, “temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé Nele" (Efésios 3:12). Deste modo foi criada a porta para a salvação.

Essa porta é chamada de “a porta estreita” e tem um motivo para isso. Para algumas pessoas, ela é estreita, comprimida e difícil de passar; e assim continuará sendo, enquanto o mundo existir da forma como é. É estreita para todos que amam o pecado e estão determinados a não partir sem ele. É estreita para todos aqueles que depositaram suas alegrias nesse mundo e buscam primeiro os prazeres e recompensas mundanos. É estreita para todos que tem aversão a dificuldades e não estão dispostos a tomar suas dores e fazer sacrifícios pelas suas almas. É estreita para todos os que gostam de companhia e querem manter-se com a multidão. É estreita para todos os que são farisaicos e pensam que são boas pessoas e merecem ser salvas. Para todos, a maravilhosa porta feita por Cristo é estreita e comprimida. Em vão eles tentam passar por ela. A porta não os tolera. Deus não está relutante em recebê-los e seus pecados não são tantos assim para não serem perdoados, mas eles não querem ser salvos da maneira de Deus. Milhares, por muitos e muitos séculos, tentaram fazer do caminho à porta mais largo, milhares trabalharam e labutaram pesadamente a fim de chegarem ao céu de sua própria maneira. Mas a porta nunca muda. Ela não se expande, ela não vai se esticar para acomodar um homem em detrimento de outro. Ela ainda é a porta estreita.

Tão estreita quanto essa porta possa ser, continua sendo “a única pela qual homens e mulheres podem entrar no céu”. Não há porta dos fundos, não há uma segunda estrada, não há uma brecha ou uma parte mais baixa na parede. Todos os que são salvos, assim o serão apenas por meio de Cristo e pela fé Nele. Ninguém se salvará apenas por arrepender-se. A tristeza de hoje não apaga nossas falhas de ontem. Ninguém será salvo pelas suas boas obras. As melhores obras que alguém pode fazer é um pouco melhor do que pecados impressivos. Ninguém será salvo apenas por ir à igreja, ler a Bíblia, orar, participar da Ceia do Senhor e honrar o seu dia. Quando fazemos tudo isso, continuamos sendo nada, apenas pobres servos descartáveis. É perca de tempo buscar qualquer outro caminho para a vida eterna. Homens e mulheres podem olhar para a direita ou esquerda e viverem conforme seus próprios métodos, mas eles nunca encontrarão outra porta. Homens e mulheres orgulhosos, se quiserem, podem não gostar da porta. Homens e mulheres depravados podem escarnecer dela e fazer piadas dos que a utilizam. Homens e mulheres preguiçosos podem reclamar que o caminho é árduo. Mas homens e mulheres não descobrirão outro meio para a salvação, a não ser a fé no sangue e na retidão do Redentor crucificado. Uma porta se posiciona entre nós e o céu, ela pode ser estreita, mas é a única. Devemos ou entrar para o céu através dessa porta estreita ou não entrar de forma alguma.

Tão estreita quando essa porta possa ser, continua sendo “uma porta sempre disposta a abrir”. Nenhum pecador, de qualquer tipo, está proibido de se aproximar, quem quiser, poderá entrar e ser salvo. Há apenas uma condição para ser aceito: que você realmente sinta e odeie seus pecados, desejando ser salvo por Cristo à Sua maneira. Você está realmente ciente de sua culpa e maldade? Você verdadeiramente tem quebrantado e contristado seu coração? Olhe para a porta da salvação e entre. Ele, que a ergueu, declara “e o que vem a mim, de maneira nenhuma o lançarei fora” (João 6:37).

A questão a ser considerada não é se você é um grande ou pequeno pecador, se você é eleito ou não, se você é convertido ou não.  A questão é simplesmente essa: “Você sente e odeia seus pecados?”. Você se sente pesado e oprimido? Você está disposto a colocar sua vida nas mãos de Deus? Se esse é o caso, então a porta se abrirá para você.  Venha hoje.  Por que você permanece aí fora?

Tão estreita quanto essa porta possa ser, ela continua sendo “a única pela qual milhares e milhares já passaram e foram salvos”. Nenhum pecador jamais voltou atrás e disse que era muito ruim para ser aceito, quando vinha enojado por seus pecados.  Pessoas de todos os tipos foram recebidas, limpas, lavadas, perdoadas, vestidas e feitas herdeiras da vida eterna. Algumas delas não pareciam que seriam admitidas, você e eu talvez tenhamos pensado que elas eram muito pecadoras para serem salvas. Mas Ele, que ergueu a porta, não as recusou. Assim que bateram, Ele deu ordens para que elas pudessem entrar.

Manassés, rei de Judá, foi a essa porta. Ninguém era pior do que ele naquele tempo. Ele havia desprezado o exemplo e os conselhos de seu pai Ezequias. Ele ajoelhou-se para ídolos. Ele encheu Jerusalém de carnificina e crueldades. Ele assassinou seus próprios filhos. Mas assim que seus olhos se abriram para seus pecados e ele correu até a porta, buscando por perdão, ela abriu-se e ele foi salvo.

Saulo, o fariseu, foi até essa porta. Ele blasfemou contra Cristo e perseguiu Seus seguidores. Ele trabalhou incessantemente a fim de impedir o progresso do evangelho. Mas assim que seu coração foi tocado e ele viu sua culpa, correndo para a porta e buscando por perdão, imediatamente ela se abriu e ele foi salvo.
Muitos dos judeus que crucificaram nosso Senhor, foram até a porta. Eles foram, verdadeiramente, pecadores atrozes. Eles recusaram e rejeitaram seu próprio Messias. Eles O entregaram a Pilatos e rogaram para que Ele fosse crucificado. Eles preferiram liberar Barrabás e deixar que o Filho de Deus fosse morto. Mas no dia em que seus corações se convenceram da verdade, através da pregação de Pedro, eles foram direto à porta, buscar por perdão, e imediatamente ela se abriu e eles foram salvos.

O carcereiro em Filipos buscou essa porta. Ele era um homem ímpio, cruel e duro. Ele fez tudo o que estava a seu alcance para tratar Paulo e seu companheiro asperamente. Ele os trancou numa prisão e prendeu seus pés num tronco, mas quando sua consciência se ergueu, por causa do terremoto, e sua mente logo se iluminou devido aos ensinamentos de Paulo sobre a Palavra de Deus, ele correu para a porta, buscando por perdão, e ela imediatamente se abriu, o salvando.

Mas por que precisaria eu dar apenas exemplos bíblicos? Por que não contaria sobre a multidão que já foi à “porta estreita”, desde os tempos dos Apóstolos, e passaram por ela e foram salvos? Milhares de pessoas de todos os tipos, classes, idades – educados ou não, ricos ou pobres, jovens ou velhos - foram até a porta e a encontraram aberta, passaram por ela e ganharam paz de espírito.  Sim, milhares e milhares de pessoas ainda vivas provaram a efetividade dessa porta e encontraram nela o caminho para a verdadeira felicidade. Nobres e plebeus, comerciantes e banqueiros, soldados e marinheiros, fazendeiros e operários, trabalhadores qualificados ou não, ainda estão na terra e encontraram a porta estreita como sendo um caminho para a alegria e estrada para a paz. Eles não deram um relatório ruim sobre o que viram através da porta. Eles virão que o jugo de Cristo era suave e Seu fardo, leve. A única tristeza deles era porque poucos entravam e seu arrependimento era por não haverem entrado antes.

Essa é a porta pela qual quero que todos vocês entrem. Não quero que você simplesmente vá à igreja, mas que vá com todo o coração e alma para a porta da vida. Não quero que você apenas creia que existe essa porta e que pense bem dela, mas que entre por ela através da fé e seja salvo.

Pense que privilégio é ter uma porta como essa! Os anjos que não permaneceram fiéis a Deus, caíram e nunca mais se levantaram. Para eles, não havia nenhuma porta de escape aberta. Milhões de pagãos nunca sequer ouviram sobre o caminho para a vida eterna. O que eles teriam dado, se pudessem ter ao menos ouvido um sermão sobre Cristo? Os judeus no Velho Testamente viram a porta vagamente e de longe. “Dando nisto a entender o Espírito Santo que ainda o caminho do santuário não estava descoberto enquanto se conservava em pé o primeiro santuário” (Hebreus 10:8). Você tem a porta aberta claramente perante seus olhos, você tem Cristo e a salvação eterna oferecidos a você e nunca mais ficará perdido, sem saber para onde ir. Considere quão misericordioso isso é! Atente-se para que você não despreze a porta e pereça na descrença.  Infinitamente melhor seria se você não tivesse tomado ciência dessa porta do que, tendo ouvido falar nela, permanecer do lado de fora.  Como você escapará se negligenciar tamanha salvação?

Pense na pessoa cheia de gratidão que você seria, caso tivesse entrado por essa porta estreita.  Ser uma alma justificada, perdoada e absolvida, estar pronto para doenças, morte, julgamento e eternidade, sempre ser provido por ambos os mundos. Certamente isso seria um motivo para adoração diária. Verdadeiros cristãos devem ser mais agradecidos do que o que são. Acredito que poucos se lembram do que realmente eram por natureza e quão devedores são à graça. Um pagão observou que cantar hinos de adoração era uma marca especial dos cristãos antigos. Seria bom para os cristãos dos dias atuais saberem mais sobre essa disposição mental. Não há evidência alguma de um estado de mente sadia, quando há muita reclamação e pouca adoração. É uma misericórdia maravilhosa haver uma porta para a salvação, mas é uma misericórdia ainda maior quando somos ensinados a entrar por ela e sermos salvos.

II. Em segundo lugar, eis aqui uma ordem clara. Jesus nos diz: “Porfiai por entrar pela porta estreita”.

Sempre há muito a ser aprendido numa única palavra da Escritura. As palavras do nosso Senhor Jesus em particular, são sempre motivos para pensarmos. Eis aqui uma palavra que exemplifica muito bem o que estou falando. Vejamos o que o grande Mestre pode nos ensinar através da palavra “Porfiai”.

“Porfiai” nos ensina que devemos usar de meios diligentemente, se queremos que nossas almas sejam salvas. Existem meios apontados por Deus para nos ajudar em nossos esforços em nos aproximarmos Dele. Existem maneiras pelas quais devemos andar, se queremos ser encontrados por Cristo. Adoração pública, leitura da Palavra, ouvir a pregação do evangelho, é isso a que me refiro. Eles permanecem, como sempre, no meio entre nós e Deus. Sem dúvida alguma, ninguém pode mudar seu próprio coração ou apagar seus pecados ou fazer-se aceitável a Deus, mas digo-lhes uma coisa, se não pudéssemos fazer nada, a não ser ficarmos parados, Cristo não nos haveria dito “Porfiai".

“Porfiai” nos ensina que homens e mulheres são livres e prestarão contas com Deus como adultos responsáveis.O Senhor Jesus não nos diz para esperarmos e apenas sentir, aguardar e desejar. Ele nos diz "Porfiai”. Eu chamo de religião inútil aquela que nos ensina a nos contentarmos com os dizeres “não podemos fazer nada por nós mesmos", fazendo com que as pessoas continuem em pecado. Isso é tão ruim quanto ensinar as pessoas que não é culpa delas se não são convertidas e que a culpa é inteiramente divina, caso não sejam salvas. Não encontro tal teologia no Novo Testamento. Escuto Jesus dizer aos pecadores “Venha, arrependa-se, creia, trabalhe, pergunte, bata”. Vejo claramente que nossa salvação, do início ao fim, é inteiramente “de Deus”, mas não vejo com menos clareza que nossa ruína, se perdido, seja inteiramente nossa. Acredito que pecadores são sempre vistos como responsáveis, e não vejo prova maior disso do que o significado expresso em "Porfiai".

“Porfiai” nos ensina que homens e mulheres devem esperar muitas adversidades e batalhas difíceis, caso tenham suas almas salvas. E isso, falo por experiência própria, é verdade. Não há “ganho sem perda” nos assuntos espirituais e terrenos. Esse leão que ruge, o diabo, nunca deixará nenhuma alma escapar-se dele sem uma luta. O coração, que é naturalmente carnal e deseja coisas terrenas, nunca se converterá para a vida espiritual sem que haja luta diária. O mundo, com todas as suas oposições e tentações, nunca será superado sem conflitos. Mas por que isso nos surpreenderia? Quantos acontecimentos maravilhosos já foram realizados sem problema algum? O crescimento não ocorre sem arar e semear; riqueza não é obtida sem cuidado e atenção, sucesso na vida não é alcançado sem privação e trabalho; e céu, acima de tudo, não é conseguido sem a cruz nem a batalha. “Se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele” (Mateus 11:12). Homens e mulheres devem “porfiar”.

“Porfiai” nos ensina que vale a pena buscar a salvação.Se há algo nesse mundo que merece nossa luta, esse algo é a prosperidade de nossa alma. Os motivos pelos quais a grande maioria dos humanos "porfiam” são comparativamente pobres e triviais. Riqueza, grandeza, classe e educação são “coroas corruptíveis”. As coisas incorruptíveis estão todas além da porta estreita. A paz de Deus, que ultrapassa todo entendimento, a esperança de um futuro bom no porvir, a sensação de que o Espírito Santo habita em nós, a consciência de que somos perdoados e estamos salvos, preparados, seguros, providos por toda a eternidade, não importa o que aconteça. Essas sim são riquezas verdadeiras e eternas.  É bom e vantajoso que o Senhor Jesus nos alerte a “porfiar”.

“Porfiai” nos ensina que a preguiça para com o cristianismo é um grande pecado. Não é apenas um infortúnio, como muitos acreditam, algo pelo qual as pessoas devem ter dó e arrependimento. É algo que vai muito além disso. É a quebra de um mandamento muito claro. O que será dito do homem ou da mulher que violar a lei de Deus e fizer algo que Deus ordena claramente a não fazer? Para isso, há apenas uma resposta: eles são pecadores. “Qualquer que comete pecado, também comete iniquidade” (I João 3:4). E o que será dito do homem ou da mulher que negligenciar sua alma e não fizer esforço algum para entrar pela porta estreita? Para isso, há apenas uma resposta. Eles estariam omitindo um dever explícito. Cristo diz “Porfiai”, mas, olhem, eles continuam parados!

Porfiai” nos ensina que todos aqueles do lado de fora da porta estreita estão em grande perigo. Eles perigam perderem-se e se atormentarem para sempre. Existe apenas um passo entre eles e a morte. Se a morte os encontrar em sua condição presente, eles perecerão sem esperança alguma. O Senhor Jesus viu isso claramente. Ele sabia da incerteza da vida e da brevidade do tempo; Ele se alegra em ver pecadores se apressarem e não se atrasarem, para que se livrem de sua alma pecaminosa antes que seja tarde demais.  Ele fala como aquele que viu o diabo aproximar-se deles diariamente e os dias de suas vidas decaírem gradualmente.  Ele zelaria para que tivessem o cuidado de não esperar demasiado, por isso, Ele grita, “porfiai”.

Essa palavra, "porfiai", levanta pensamentos sérios na minha mente. Ela é cheia de condenação para milhares de pessoas batizadas. Ela condena os meios e as práticas de multidões que se auto-professam cristãos. Existem muitos que não juram, nem assassinam, nem cometem adultério, nem roubam ou mentem, mas há algo que, infelizmente, não pode ser dito sobre eles, não se pode dizer que porfiam a fim de serem salvos. O espírito da “inatividade” domina seus corações em tudo quando o assunto é cristianismo. Eles estão muito ocupados com as coisas do mundo, levantam-se cedo, dormem tarde, trabalham, labutam, ocupam-se, são cuidadosos, mas a única coisa que eles precisam realmente executar, não o fazem: eles nunca "porfiam" pelas coisas de Deus.

1. O que direi sobre aqueles que são irregulares sobre a adoração pública de Deus aos domingos?

Existem milhares que se adéquam a essa descrição.  Algumas vezes, quando se sentem inclinados, vão à igreja e atendem ao serviço religioso; em outras, ficam em casa e lêem um livro, deitam-se, revêem suas contas ou buscam por alguma diversão.  Isso é estar porfiando? Eu falo a homens e mulheres de senso comum. Deixe-os julgar o que digo.

2. O que direi daqueles que vem regularmente adorar a Deus aos domingos, mas apenas pró-forma?

São muitas as pessoas do nosso país que se encontram nessa condição. Seus pais a ensinaram a vir; o costume sempre foi vir, não seria respeitoso deixá-lo de lado. Quando eles comparecem à igreja, nem sequer se importam em adorar a Deus. Se escutam sobre lei ou evangelho, verdade ou mentira, isso dá no mesmo para eles, até porque não se lembram de nada depois. Tendo em vista que tiram seus moldes religiosos, assim como suas roupas de domingo, e voltam ao velho mundo. Isso é estar porfiando? Eu falo a homens e mulheres de senso comum. Deixe-os julgar o que digo.

3. O que direi daqueles que raramente – ou nunca – lêem a Bíblia?