quarta-feira, junho 27

Somos pedreiros espirituais // Thais Lemos


// lições em Neemias a partir de um muro

Thaís Lemos

21/06/2012



Que influências têm adentrado pelas portas da sua cidade? O que temos permitido entrar em nossa fortaleza? O que a construção de um muro tem a nos ensinar? Estava lendo o livro de Neemias um pouco desatenta até chegar ao capítulo seis, ter uma revelação e decidir começar a ler tudo de novo desde o início. Creio que o Senhor tenha-me levado a escrever o que começo agora para fortalecer seus filhos ao longo da caminhada com Ele, principalmente para aqueles filhos que começam a dar os primeiro passos de fé. 

Tentarei fazer um resumo (bem resumido mesmo e com ajuda da wikipedia) do livro, mas recomendo a leitura completa antes de prosseguir nesta reflexão. Neemias era copeiro no palácio do rei Antaxerxes I (período pós-exílio do povo de Israel na Babilônia) e, devido a algumas evidências, acredita-se que ele era eunuco. Seu irmão Hanani relatou-lhe a lamentável condição de Jerusalém e seu coração se encheu de tristeza. Após ter-se humilhado por dias diante de Deus, o rei permitiu uma licença para que ele fosse a Judá reconstruir a cidade e seus muros. 

Vamos começar fazendo um pequeno adendo sobre o caráter de Neemias – homem de oração, respeitava as autoridades e era extremamente determinado (Ne 1 e 2). Conseguiu que seu pleito fosse considerado pelo rei visto que a poderosa mão de Deus estava sobre ele (Ne 2,8) – não se tratava apenas do que ele era, mas sim do que Deus queria por meio da vida dele. Voltemos, pois, ao muro.

Sua reconstrução será comparada a nossa construção como filhos de Deus. Quando entregamos nossa vida a Cristo, recebemos um espírito de adoção (Romanos 8,15) e nos despimos do velho homem ou da velha estrutura (Efésios 4,22). Começamos a colocar tijolo sobre tijolo, precisamos de argamassa espiritual e de pedreiros para nos ajudar em todo o processo, que é longo e cheio de percalços. Para os que perseveram, têm-se fortes estruturas ao final, que representam um caráter inculpável, inspirado em Cristo Jesus. 

Neemias encontrou as mais diversas oposições à reconstrução do muro; se humilhou, precisou da autorização do rei, viajou por uma longa rota, estudou sozinho a cidade, precisou organizar o povo e enfrentar inimigos antes e após o término do projeto. Creio que cada um de nós enfrentou adversidades desde o início da caminhada, seja a oposição familiar ou de amigos, ou sua resistência pessoal em crer no Deus que é Jesus (não em um Deus papai noel, energia positiva ou velhinho caduco), no Deus de Jacó. Talvez tenha sido preciso demolir muralhas espirituais, influências malignas, cadeias mentais antes de construir muro novo. Neemias venceu e nós também podemos vencer, seguindo rumo ao nosso alvo que é Cristo! Pela graça do nosso Amado e pela nossa busca pela revelação de Sua face podemos prosseguir em passos de convicção. 

Por três dias, Neemias guardou consigo o que o Senhor tinha colocado em seu coração a respeito da reconstrução de Jerusalém (Ne 2, 12) e, quando começou o trabalho junto ao povo remanescente (aqueles que tinham voltado do exílio na Babilônia) despertou a fúria de alguns oficiais e foi ridicularizado (Ne 4, 1). 

“E sucedeu que, ouvindo Sambalate que edificávamos o muro, ardeu em ira, e se indignou muito; e escarneceu dos judeus. E falou na presença de seus irmãos, e do exército de Samaria, e disse: Que fazem estes fracos judeus? Permitir-se-lhes-á isto? Sacrificarão? Acabá-lo-ão num só dia? Vivificarão dos montões do pó as pedras que foram queimadas?E estava com ele Tobias, o amonita, e disse: Ainda que edifiquem, contudo, vindo uma raposa, derrubará facilmente o seu muro de pedra”. (Neemias 4:1-3)

Quantas vezes não somos ridicularizados... Quantas vezes o mundo duvida da misericórdia e do poder do Espírito que habita em nós, poderoso o suficiente para transformar viciados em santos, promíscuos e adúlteros em maridos de uma só esposa e por ai vai... 

Um povo dedicado às coisas do Senhor, todavia, segue em frente e continua a trabalhar na construção da obra daquele que é fiel para terminar o que começou (Ne 4, 4-6). Que possamos ter amor e zelo pelas coisas dEle!

“Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo”. (Filipenses 1:6)


Gosto muito quando no capítulo 4 versículo 7, Neemias fala que as BRECHAS estavam sendo fechadas e que os opositores ficaram furiosos ao saber disso. Acho excelente a idéia de progressão trazida pelo tempo verbal: ainda que o muro tenha sido erguido rapidamente (52 dias – Ne 6,15), a obra toda não se deu do dia para a noite, ao contrário do Muro de Berlim! O despir-se do velho homem deve envolver um processo de SANTIFICAÇÃO, tornando-nos mais parecidos com Jesus (Ele é Santo, Santo, Santo e sem santidade ninguém verá o Senhor – Hebreus 12, 14) e nos blindando dos ataques do inimigo. Feche as brechas da sua muralha; busque a mais bela característica de Deus – sua santidade (Apocalipse 4, 8 e Isaías 6, 3). 

Nos versículos seguintes do capítulo (8 e 9), os ataques continuam, mas o povo continua VIGILANTE e suplicando a intervenção do Senhor! Devemos buscar uma disciplina de oração, afinal “o pão nosso de cada dia nos dai HOJE (Mateus 6,11)”. Nossa oração vale um dia! Não deixe de orar jamais! 

“Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando 
como leão, buscando a quem possa tragar”.(1 Pedro 5:8)

“Vigiai e orai, para que não entreis em tentação”. (Mateus 26:41)

Em Neemias 4, 10, logo na seqüência, o Senhor nos lembra que somos homens (e mulheres) e que esmorecemos na jornada. Ele mesmo disse que os dias seriam maus (Efésios 5.15-17). O povo de Judá começou a desanimar e ficar temeroso, pois já não tinha força (Ne 4, 10) e o inimigo estava no meio dele (Ne 4, 11). É normal que fiquemos frustrados e cansados, que sejamos tentados em toda a sorte de coisas, mas as Escrituras estão repletas de passagens (não vou ficar transcrevendo todas, vá ler sua Bíblia) que nos encorajam a vencer o mundo, porque Ele já O venceu. Além disso, Jesus, sendo Deus, se entregou à morte de cruz e chorou, mas manteve a construção do nosso maravilhoso “muro da redenção”, concluído em sua ressurreição gloriosa, cumprindo a plenitude da vontade de Seu Pai! 

“Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16:33). 

Neemias estava de fato com a mão do Senhor sobre si; era um estrategista moldado por Deus. Vendo o desânimo de seu povo, logo fez alguns ajustes e inspeções, alocou o povo em partes especificas do muro e os encorajou, lembrado que lutavam em nome do Senhor, de suas famílias e de seus compatriotas. Nossa luta não é apenas por nossa salvação; lutamos por vidas a nós confiadas. Que sejamos como Paulo, que chegou a cogitar ser separado de Cristo para que mais filhos pudessem ser alcançados pelo Evangelho (Romanos 9,3)! 

“E olhei, e levantei-me, e disse aos nobres, aos magistrados, e ao restante do povo: Não os temais; lembrai-vos do grande e terrível Senhor, e pelejai pelos vossos irmãos, vossos filhos, vossas mulheres e vossas casas”. (Neemias 4:14)

Outro detalhe bem legal acerca da construção do muro é que havia divisão de tarefas entre todos. Enquanto uns construíam, outros vigiavam armados. O que desejo destacar aqui é a importância de nosso funcionamento como Corpo de Cristo. Compomos (creio eu) um corpo formado por partes, cada um com uma função. Quem é você no corpo? Repare também ao longo do versículo que, mesmo aqueles que trabalhavam na edificação, portavam armas. Você está servido ao Corpo? Enquanto serve, vigia e peleja no campo espiritual com as armas que o Senhor lhe concedeu? 

“E sucedeu que, desde aquele dia, metade dos meus servos trabalhava na obra, e metade deles tinha as lanças, os escudos, os arcos e as couraças; e os líderes estavam por detrás de toda a casa de Judá. Os que edificavam o muro, os que traziam as cargas e os que carregavam, cada um com uma das mãos fazia a obra e na outra tinha as armas”. (Neemias 4:16-17)

Ainda pensando a respeito do funcionamento da Noiva, do Corpo de Cristo, vamos os versículos seguintes (19 e 20). Neemias diz que “a obra é grande e extensa”, e que eles “estavam separados e dispersos” ao longo do muro, mas que, ao ressoar da trombeta, todos se juntariam e que Deus lutaria por eles. Essa passagem fala por si: somos todos membros de um mesmo corpo disperso pelo mundo. Somos os pedreiros em uma obra em que o Senhor é o engenheiro. Quando as trombetas forem tocadas, aqueles que vivem em busca da face do Amado correrão destemidos na mesma direção – Jesus! 

Neemias tratou de resolver algumas injustiças sociais da época; repreendeu aqueles que oprimiam o povo com impostos e vendiam seus irmãos como escravos. Era preciso (e ainda é) ser irrepreensível diante do mundo. O verdadeiro crente está sempre num processo de REGENERAÇÃO. 

“Por isso prossegui: "O que vocês estão fazendo não está certo. Vocês devem andar no temor do Senhor para evitar a zombaria dos outros povos, os nossos inimigos.” (Neemias 5:9)

Outro exemplo de Neemias é sua RENDIÇÃO ao propósito. Ao contrário dos governantes anteriores, ele não reivindicou o direito de comer a comida destinada ao governador, não gastou comprando terras e se envolveu ativamente na construção no muro (Ne 5,14-16). Ele buscou ser humilde assim como nosso Senhor que, sendo Deus, aceitou morrer como cordeiro mudo para que a vontade do Pai fosse feita. Estamos muitas vezes buscando nos assentar em lugares altos, de prestígio, ao invés de servirmos em humildade verdadeira. (Lucas 4, 7-11 e 18, 14). Ele que nos exalta e justifica! 

“Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome.” (Filipenses 2:6-9)

O Senhor nos chama a abrir mão até mesmo de nossos direitos, como Neemias fez. O que você ainda não rendeu a Deus? Que altares têm construído? Ao longo da construção do muro, passaremos por um processo de rendição em etapas: primeiro pessoas, depois direitos até que, num dado momento, Ele nos pede o que temos de mais precioso: Ele nos pede Isaque! Ele pede para que larguemos tudo e O sigamos rumo a uma terra desconhecida. Infelizmente, por medo, entre outros fatores, a maioria dos filhos fica no meio do caminho. A porta é de fato estreita... (Mateus 7,13-14)

Vamos ao capítulo 6, que considero o mais rico. 

“Sucedeu que, ouvindo Sambalate, Tobias, Gesem, o árabe, e o resto dos nossos inimigos, que eu tinha edificado o muro, e que nele já não havia BRECHA alguma, ainda que até este tempo não tinha posto as portas nos portais, Sambalate e Gesem mandaram dizer-me: Vem, e congreguemo-nos juntamente nas aldeias, no vale de Ono. Porém intentavam fazer-me mal. E enviei-lhes mensageiros a dizer: Faço uma grande obra, de modo que não poderei descer; por que cessaria esta obra, enquanto eu a deixasse, e fosse ter convosco? E do mesmo modo enviaram a mim quatro vezes; e da mesma forma lhes respondi.” (Neemias 6,1-4)

Voltamos à questão das brechas. Perceba que o muro já não tem brechas, o que nos permite inferir uma evolução na obra e, na analogia espiritual, um crescimento. Todavia, o muro ainda não tem portas. Creio que seja preciso cuidado ao longo de toda nossa jornada, mas há tempos em que temos que redobrar o cuidado: precisamos selecionar quem deixaremos entrar na nossa cidade! É preciso fechar as portas e se guardar no secreto, buscando crescimento com o Senhor. Busque discernir em que tempo você está. Fala-se muito que Jesus andava com todos e que, portanto, você como crente também deve fazê-lo. Amém!! Creio inteiramente nisso, mas, pergunto: você está espiritualmente forte para se sentar na roda dos escarnecedores sem se corromper? Chegou a hora de falar e fazer, ou é hora de aprender com cristãos mais maduros na fé e deixar o Senhor te moldar? Lembre-se que os discípulos andavam sempre em duplas. Se você acaba de se converter, está cheio do Espírito Santo e louco para sair sozinho convertendo todos os seus amigos seculares num barzinho por ai, reflita um pouco mais sobre quem você é agora em Cristo. Deus quer sim sua ousadia, mas Ele quer te moldar antes! Foque sua sede em conhecê-LO! Ele é que abre as portas do muro (Ne 7,3) no seu tempo soberano. 

Veja que Sambalate e Gesem tramaram contra Neemias e mandaram um convite tentador. O Espírito se converte, a carne não! Cuidado com os convites inocentes, com armadilhas que aparentam santidade. Vigie a porta de seus muros! Neemias é mesmo um cara a se imitar; ele resiste ao convite e ainda dá um mega fora nos dois! Envolvido com uma grande obra, mantém o FOCO. Olhos vivos no alvo, amados! O alvo é Cristo! 

Os dois, contudo, insistem. Não apenas duas, mas quatro vezes. O inimigo nunca desiste na primeira. Persistência é seu sobrenome. Ele não somente insiste, como ameaça (versículo 7). Neemias entendeu o chamado, porém. Ele sabia o que Deus o mandou fazer e que Ele estava no controle. Manda Sambalate e Gesem embora, afirma com convicção que as acusações eram mentirosas, e clama pela força que vem do Senhor!! É Ele que nos dá força para trabalhar! 

“Se o SENHOR não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o SENHOR não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.” (Salmos 127, 1) 

O inimigo está sempre tramando contra nós! Sempre busca um jeito de nos difamar. E não foi diferente com nosso amigo Neemias: 

“Um dia fui à casa de Semaías, filho de Delaías, neto de Meetabel, que estava trancado portas adentro. Ele disse: "Vamos encontrar-nos na casa de Deus, no templo, a portas fechadas, pois estão querendo matá-lo; eles virão esta noite". Todavia, eu lhe respondi: Acha que um homem como eu deveria fugir? Alguém como eu deveria entrar no templo para salvar a vida? Não, eu não irei! Percebi que Deus não o tinha enviado, e que ele tinha profetizado contra mim porque Tobias e Sambalate o tinham contratado. Ele tinha sido pago para me intimidar, a fim de que eu cometesse um pecado agindo assim, e então eles poderiam difamar-me e desacreditar-me”. (Neemias 6:10-13)

Além de convicção e foco, ele tinha discernimento de espíritos, pois percebeu que a profecia sobre ele era falsa, inventada com o intuito de difamá-lo. De acordo com a lei judaica, nenhum cujos testículos tivessem sido esmagados ou seu pênis decepado seria admitido à Assembleia do Senhor (lembrando que ele era eunuco).; desta maneira, Neemias não podia entrar em certas partes do Templo, o que seu inimigo, Semaías, tentou levá-lo a fazer. 

O muro construído ao longo de nossa caminhada é feito pela graça de Deus e para a Sua glória! Glorificá-lo deve ser nossa meta em tudo o que fazemos. Ele é o autor e consumador da nossa fé (Hebreus 12,2). Ele é que faz a obra! Neemias não deixa de dar graças ao nosso Senhor e a Ele atribuir todo o mérito: 

“Acabou-se, pois, o muro aos vinte e cinco do mês de Elul; em cinqüenta e dois dias. E sucedeu que, ouvindo-o todos os nossos inimigos, todos os povos que havia em redor de nós temeram, e abateram-se muito a seus próprios olhos; porque reconheceram que o nosso Deus fizera esta obra.”(Neemias 6:15-16)

Que sejamos uma geração de Neemias. Homens e mulheres pedreiros, que na hora de trabalhar na construção do muro chamam para si a responsabilidade, mas que, no momento de mostrar a obra final apontam para CRISTO, o engenheiro!! Que sejamos filhos diligentes com as coisas do Senhor e que estejamos sempre armados com toda arma espiritual enquanto vigiamos as portas da muralha (Efésios 6,10-18).

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