sexta-feira, junho 1

Loucos para o Mundo - João Calvino (1509-1564)




Porque a sabedoria deste mundo (1Co 3.19-21). Este é um argumento do lado oposto. A confirmação de um significa a destruição do outro. Portanto, visto que a sabedoria deste mundo é loucura aos olhos de Deus, segue-se que a única maneira de podermos ser sábi­os aos olhos de Deus é tornarmo-nos loucos aos olhos do mundo. Já expusemos o que Paulo quis dizer com a expressão "sabedoria deste mundo": porque a percepção natural é um dom de Deus. As artes que os homens naturalmente procuram cultivar, e todas as disciplinas pelas quais a sabedoria é adquirida, são também dons de Deus. Porém, tudo isso tem seus limites definidos, porque não podem penetrar no reino celestial de Deus. Conseqüentemente, todas elas devem ser servas, não senhoras. 

Além disso, eles devem ser olhados como inúteis e indignos até que estejam completamen­te subordinados à Palavra e ao Espírito de Deus. Mas se porventura se levantarem contra Cristo, que sejam considerados uma injuriosa peste. E se se mantêm acreditando que são capazes de algo, por si mesmos, então que sejam considerados como o pior dos obstácu­los.

Portanto, a sabedoria deste mundo é, segundo Paulo, aquilo que energicamente assume o senhorio de si mesmo e se recusa a deixar-se dirigir pela Palavra de Deus, e tampouco se deixa humi­lhar para que seja completamente sujeito a Deus. Portanto, até que suceda que uma pessoa reconheça que nada sabe exceto o que aprendera de Deus e, tendo rejeitado seu próprio entendimento, se ponha sob a direção exclusiva de Cristo, tal pessoa é sábia pelos padrões do mundo, no entanto é tola aos olhos de Deus.

Pois está escrito: Ele apanha os sábios em sua própria astúcia. Paulo apoia o que acaba de afirmar em dois textos da Escritu­ra. O primeiro é tomado de Jó 5.13. Aí a sabedoria de Deus é exaltada porque em sua presença nenhuma sabedoria terrena pode se estabelecer. Não há dúvida de que nesse contexto o profeta está a falar sobre o astuto e o insidioso. Porém, visto que a sabedoria do homem é sempre da mesma qualidade quando se acha divorcia­da de Deus, Paulo corretamente a adapta para significar que, em­bora os homens adquiram muita sabedoria por seus próprios esfor­ços, tal coisa não tem o menor valor aos olhos de Deus. O segundo é do Salmo 94.11, onde, após atribuir a Deus a função e a autorida­de para ensinar a todos, Davi acrescenta que "O Senhor conhece os pensamentos do homem, que são pensamentos vãos". Portanto, não importa quão altamente sejam valorizados por nós, segundo o juízo divino são fúteis. Esta é uma excelente passagem para realçar a confiança carnal, pois aqui Deus declara de cima que tudo o que a mente humana concebe e propõe é simples nulidade.

Por isso, ninguém se glorie nos homens. Visto que nada é mais indigno do que o homem, quão pouca segurança há em depender-se de uma sombra inconsistente! Daí, ele faz uma válida inferência da oração precedente ao dizer que não se deve gloriar nos homens visto que ali vemos como o Senhor despe a todos os homens das bases para a ostentação. Contudo, esta conclusão de­pende de tudo o que ensinou no argumento precedente, como logo veremos. Pois visto que pertencemos exclusivamente a Cristo, Paulo está plenamente certo em ensinar-nos que qualquer preeminência que seja atribuída ao homem, que envolva o detrimento da glória de Cristo, é sacrílega.


Deus, contudo, não deveria ser tido na conta de cruel, nem somos nós inocentes, visto que o apóstolo claramente mostra que somos entregues ao seu poder somente quando merecemos tal punição. Só uma exceção se deve fazer, a saber: que a CAUSA do pecado, as raízes do que sempre reside no próprio pecador; não tem origem em Deus, pois resulta sempre verdadeiro que “A tua ruína, ó Israel, vem de ti, e só de mim o teu socorro” (Os 13.9).

Ao conectar os desejos perversos do coração humano com a IMPUREZA, o apóstolo indiretamente nos dá a entender o fruto que o nosso coração produzirá ao ser entregue a si mesmo. A expressão “entre eles mesmos” – é enfática, pois de modo significativo expressa quão profundas e indeléveis são as marcas da conduta depravada que trazem impureza a seus corpos.

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