sexta-feira, junho 1

Frágeis?




DE JOÃO BATISTA ATÉ NÓS

Sugiro a leitura de Mateus 11:1-19 antes do texto abaixo.

"Que saístes a ver?" Essa foi a pergunta de Jesus para aqueles que ouviram e ficaram escandalizados com a mensagem dos discípulos de João Batista. João estava preso e fragilizado,  exposto ao medo da morte e à solidão do cárcere. Aquele mesmo "espírito" que há séculos havia oprimido Elias levando-o a pedir para morrer por não ser melhor do que aqueles que vieram antes dele (1 Rs. 19:4), agora estava contra João.

O profeta era movido agora por incertezas ao ouvir sobre a fama de seu primo, Jesus. Imagine você perto de Jesus ouvindo-o dizer palavras tão lindas sobre o reino de Deus e também vendo-o fazer milagres incríveis, quando de repente chegam alguns homens cabisbaixos e tomados por um peso mórbido, trazendo uma pergunta inquietante e desconfortável do seu mentor e pai no ministério. Certamente não estava fácil carregar o legado de João Batista naquele momento.

Aliás, com qual dos dois você gostaria de estar caminhando no ministério naquele momento? Com Jesus ou João Batista? Com João? Pouco provável.

Talvez, se o som do coração daquelas pessoas pudesse ser ouvido após a pergunta dos discípulos de João, se ouviria a afirmação indignada: “Que frágil é ele!”

João foi forjado sob o sol forte do deserto. Experimentou  a solidão. O dia em que ele levantou o dedo para testificar de Jesus, alguns de seus discípulos o abandonaram e foram seguir Jesus (Jo. 1:35-37). Talvez essa seja uma das mais duras provas no ministério, a de ver alguém que você estima e espera que seja seu amigo ou parceiro deixá-lo para ir aprender com alguém que pode abençoá-lo mais que você. Aqui se dividem verdadeiros pais e ministros daqueles que não compreendem que a verdadeira honra nunca será nossa, mas Dele. João não se considerou digno de desatar as correias das sandálias do seu Senhor, mas muitos hoje acreditam que podem até mesmo calçá-las.

Thomas Watson (1620) disse: “João não pregava para agradar, e sim para abençoar. Ao invés de mostrar sua própria eloquência, ele preferiu revelar os pecados dos homens". Assim tornou-se uma lâmpada que ardia no coração de sua geração. Solitário e resoluto, gastou-se até não poder mais por um único propósito: ser uma voz.

Mas no final de sua carreira, sem acumular bens nem reputação, ele põe o rosto entre as grades de sua cela e olhando para os olhos de seus discípulos expõe o coração. Talvez olhasse para o passado tão recente e ficasse tentando fazer contas para ver se valeu a pena tanto desgaste, tanta renúncia. Sua única herança e recompensa na terra era ver aquele que vinha após ele se levantar e manifestar aquele maravilhoso reino que tantas vezes ele viu em seu coração e em suas visões. 

Não deve ser fácil morrer sem ver o fruto do seu trabalho, não é verdade? 

E quando todos estavam indignados com as dúvidas de João, Jesus os indagou. Foi como se ele dissesse: “O que é que vocês esperavam ver?  Depois de tudo o que ele passou, vocês queriam vê-lo se ostentando no final? Impossível!”
“Vocês olham e pensam que ele é um bambu que o vento pode quebrar facilmente. Mas não é! Ele é João, o meu João! Que teve coragem de sofrer antes que eu sofresse e fez isso por causa do meu reino.”

“Ele vai mostrar para ‘Jesabel’ que ela pode cortar uma cabeça, mas não calará a voz do que clama. João pode ser ‘dobrado’, mas nunca será quebrado!”

João não preparou o caminho do Senhor apenas com palavras ou com sinais maravilhosos, ele gastou sua vida.

Assim também, aqueles que carregam uma mensagem em seu coração são consumidos por ela, eles perderão a vida por ela. E não será a eloquência ou a força de vontade que os levará a um bom final, mas a resignação deles.

Podemos olhar para nós mesmos ou para aqueles que vemos caminhar e sonhar com o reino hoje e dizer: “Mas como eles são fracos!” Principalmente se forem comparados aos seus antepassados. Quantos leem as biografias dos heróis da fé e dizem para si mesmos: “Quem sou eu para seguir os passos dessa pessoa? Nunca conseguirei”.

Mas é muito importante olharmos para João o Batista, que carregou sobre si o espírito profético de Elias e abriu caminho para o Senhor naquele tempo. Ninguém pode dar testemunho de si mesmo considerando suas próprias fraquezas. É preciso esperar para que Ele testemunhe a respeito de nós. Mesmo que isso aconteça quando, como com João, estejamos em tremendas fraquezas e risco de morte.

Ainda que outros olhem e digam: "Aí vai um bambu sacudido pelo vento", lembre-se de João. Sua voz não pode ser calada. Ele continua clamando nos dias de hoje através daqueles que nunca se dobram, até que Ele venha.


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